setembro 29, 2006

os Coleccionadores

É partindo do livro: “O Coleccionador” de John Fowles, que vemos uma história de ficção tornar-se realidade. As personagens de Fowles descritas neste fabuloso policial, ganham um contorno assustador na história de Natascha Kampusch, a jovem que escapou do cativeiro onde esteve presa durante oito anos. (Este livro trata a história do rapto de uma jovem estudante de artes, Miranda. O seu raptor era alguém que vivia há anos obcecado com a sua imagem, e que decidiu adquirir uma casa para a manter fechada. É interessante perceber o perfil psicológico do raptor do livro pois é alguém que no fundo não faz mal a Miranda, deixando-se mesmo manipular por ela, mas porém é consumido por uma obsessão exagerada pela imagem desta jovem, que ele designava por: “minha convidada”. Desenvolveu-se ao longo do rapto, uma confusa relação com mistura de sentimentos, em que a cativa acaba quase por sentir uma certa afeição pelo seu raptor).
No início do livro, John Fowles descreve assim os momentos que antecederam a preparação do rapto:

“ Atravessei. Andava muita gente por ali. Ela estava numa cabine telefónica. Depois saiu e em vez se subir a colina como costumava fazer, meteu por outra rua (…).”
(Excerto do “ Coleccionador” de John Fowles.)

Assim vemos um terrível conto de ficção tornar-se na mais perigosa realidade, uma realidade a que todos podem evidentemente estar sujeitos. Doentias obsessões? Acordos envolvendo milhões? Como explicar um comportamento destes? Principalmente se pensarmos que a mente que arquitecta algo desta dimensão, pode aparentemente, ter um aspecto saudável e normal. Tudo isto torna-se ainda mais assustador, se pensarmos que um raptor pode viver a escassos passos de nós, pode ser alguém que nos cumprimenta cordialmente pela manhã, que nos sorri, um vizinho simpático que nos faz um favor. Confesso que a questão dos raptos me preocupa. Preocupa-me olhar pela janela à noite, e sentir que algures nas profundezas de um solo, deste nosso universo, se encontra um grito no silêncio.
Hoje vivemos numa sociedade perigosa, com seres humanos doentes, e se pensarmos que neste momento podem estar inúmeras crianças e adultos sob a guarda de perigosos predadores, torna-se ainda mais urgente perceber onde encontrar este tipo de pessoas. O que determina este crescente fenómeno bizarro de comportamentos, que leva pessoas a sequestrar, raptar, causar danos irreparáveis em seres inofensivos? Deixo esta ideia, este pensamento, para que dentro do possível, se surgir uma oportunidade, possamos fazer algo, para acabar com esta colecção proibida de seres humanos.

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