Ouvir
Em jeito de comentário a um post de Mário Almeida em "Tempo de Lobos", vale a pena determo-nos sobre a díficil arte de ouvir. Ouvir ou talvez melhor escutar nos dias actuais, é uma arte em jeito de extinção. A velocidade de captação da informação através dos sentidos (sendo a mais importante, a visual) e análise (via pensamento) atingiu ritmos acelerados nos nossos dias e escutar tornou-se um processo moroso, exaustivo, fatigante e para muitos desnecessário. Quem tem realmente tempo para "ouvir" alguém mais de cinco minutos sem olhar para o lado ou para um ponto outro qualquer, que não seja os olhos do interlocutor, inquietar-se e suspirar, pelo menos uma única vez? Ou então sem que a nossa mente nos traia e seja atravessada por miríades de pequenas imagens projectadas e de ideias faiscantes, que importunamente nos desviam da atenção devida sobre o receptor? Santo Agostinho, já no seu tempo (um tempo cheio de vagar) ía mais longe. Dizia ele (em linguística moderna) que, quando ouvimos alguém, estamos a processar a informação escutada de acordo com os nossos próprios parâmetros intrepretativos. Ou seja, ao reproduzir e tratar a informação, o indíviduo que escuta, não consegue ser apenas o eco do emissor, extravasando a recepção e análise da informação nos moldes do seu próprio pensamento. Santo Agostinho coloca assim a questão: até que ponto a comunicação posta assim nesestes termos, será possível?
Mas, quem poderá culpar a Humanidade, se todos nós contribuímos para esse estado das coisas, uns esmiuçando células, outros moléculas e outros neurónios? A informação recebida é frenética e não há tempo a perder. Italo Calvino no seu livro "Seis propostas para o próximo milénio" (entenda-se que ele editou o livro em 1990), falava precisamente da Rapidez (Lightness, Quickness, Exactitude, Visibility, Multiplicity, Consistency). Eram estes os seus Six Memos para o século XXI.
Mas, quem poderá culpar a Humanidade, se todos nós contribuímos para esse estado das coisas, uns esmiuçando células, outros moléculas e outros neurónios? A informação recebida é frenética e não há tempo a perder. Italo Calvino no seu livro "Seis propostas para o próximo milénio" (entenda-se que ele editou o livro em 1990), falava precisamente da Rapidez (Lightness, Quickness, Exactitude, Visibility, Multiplicity, Consistency). Eram estes os seus Six Memos para o século XXI.
Na Antiguidade, "Ouvir", conservando o corpo numa posição absolutamente imóvel, cheia de graça e de solenidade, fazia parte da educação. Eis então uma boa proposta para o dia de hoje.
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