Sono treina a visão
Em entrevista telefónica à agência Lusa,
Allan Hobson revelou que “o sono é algo muito elaborado, a única coisa que se
perde é consciência, mas a consciência, no máximo, ocupa cinco por cento da
atividade cerebral”.
O investigador estudou os sonhos e concluiu, por exemplo,
que quando conservamos a visão durante o sono, conseguindo formar imagens
perfeitas, aquilo que o nosso cérebro está a fazer “no fundo é treinar a visão e
isso é muito importante que ele faça”.
De acordo com o cientista não é só a visão, mas a
locomoção também. “Todos os sonhos são animados, nós nunca ficamos quietos,
sonhamos sobre correr, andar, mesmo voar, é como um programa de ensaio para o
cérebro”, disse.
O cientista que formulou a teoria da “protoconsciência"
que serve para o desenvolvimento e manutenção da “consciência desperta”, lembrou
que “nós vemos a consciência como algo que só existe depois de acordarmos”, mas
aquilo que tentou explicar “é que sonhar é uma outra forma de consciência, que
precede no tempo o estado consciente".
Para Allan Hobbes, essa atividade “começa a acontecer no
útero, na terceira semana de desenvolvimento do feto, num momento em que,
certamente, não regista significativos efeitos do meio que o rodeia, ou seja, o
cérebro já se está a preparar para estar consciente e está a ‘correr programas’
como um computador que se prepara para o trabalho do dia seguinte”.
O neurocientista publicou em 1977, com Robert McCarley,
um estudo em que concluiu que os sonhos são mudanças bioquímicas e impulsos
elétricos aleatórios que agitam o cérebro enquanto dormimos, sem qualquer
significado no sentido que Freud lhes deu. Só que quando acordamos a nossa
consciência, habituada a que tudo faça sentido, força uma “narrativa” para dar
alguma lógica a esses impulsos.
Esta é a teoria de “ativação-síntese” comummente aceite
no meio científico e que contraria a teoria psicanalítica, mas que Hobson
atualizou em 1999 ao considerar que a parte do cérebro que gere as emoções
também mantinha atividade durante os sonhos.
Apesar de ser apontado como o “maior provocador no campo
do estudo dos sonhos” afirmou que faz “o que Freud queria fazer, mas que em 1895
não podia, porque não sabia nada sobre o cérebro, por isso estava obrigado a
elaborar a sua teoria dos sonhos a partir de especulação”. Para ele, “’A
interpretação dos sonhos’ é um grande livro, mas não há ali nada de científico
sobre os sonhos”.
Sem comentários:
Enviar um comentário