janeiro 15, 2010

As almas dos nossos antepassados esquecidos e o "non life state"


É curioso e de certa forma assustador pensar nas multidões de antepassados esquecidos ao longo dos séculos, milénios e milhões de anos anteriores. Tamanhas turbas de gente que já por aqui andaram, ocupando os nossos espaços, respirando o nosso ar, com as suas almas vibrando com os mesmos pequenos problemas e alegrias de sempre, cada um particular e único mas todos tão semelhantes no seu destino: desaparecidos para sempre, silenciosamente, fundidos no esquecimento universal. Analisado o problema tão friamente tudo parece resumir-se a dois aspectos tão básicos como: ou se está vivo ou não vivo. Neste ultimo caso poderemos encontrarmo-nos para nascer ou já mortos. É pois assim que se processam os eventos no imenso ciclo de expansão e compressão do Universo. Florescemos por breves e sublimes momentos, tal como raras flores para rapidamente retornarmos ao nosso estado básico o “non life state” .

3 comentários:

PMF disse...

É precisamente nesta linha de raciocínio que entra, como factor relevante explicativo de muitos comportamentos e sentidos para a vida humana, a religião....

Mas, há que contrapor perspectivas alternativas à hipótese quase materialista - sartriana do post. Perspectivas bem mais simples e simplesmente mais optimistas (talvez). Vem-me à ideia, novamente e também para a explicação da vida humana (rectius, da natureza humana, uma vez que esta determina a vida humana), a frase de Khalil Gibran (ando fascinado com este autor/Artista/Poeta): "A simplicidade é o último degrau da sabedoria".
Talvez a sabedoria esteja, também, no encarar o devir humano com simplicidade. Mas...(continuarei)....

PMF disse...

(CONT.) Mas...diz a Medes: «Florescemos por breves e sublimes momentos, tal como raras flores para rapidamente retornarmos ao nosso estado básico o “non life state”»

De facto, assim parece ser, à primeira vista!
No entanto, numa perspectiva mais (aparentemente) optimista, o facto é que os "breves e sublimes momentos" talvez não sejam tão breves como isso. Quer dizer, a Medes talvez tenha tocado, aqui, no drama da Humanidade: o tempo.

Na nossa perspectiva humana (limitada e incapaz de abarcar os "mistérios" da vida), ´deparamos com um alimitação intransponível: o tempo (ou, em rigor, a falta dele). Estamos limitados pelo tempo e pelo espaço. O tempo, em particular, é um inimigo que, quotidiana e correntemente, nos ataca, fugindo! Nunca temos tempo, sobretido, quanto mais vivemos, menos tempo temos! Foge-nos e condiciona-nos. Queremos sempre correr contra o tempo, tendo dificuldade em perceber que o tempo (o tempo da vida) tem que ser respeitado. "Dar tempo" ao tempo é um das frases mais "abertas" (de significado - onde cabe tudo), mais vazias e, simultaneamente, mais verdadeiras e inultrapassáveis que conheço. Os caprichos do tempo (o tempo do tempo) sobrepõe-se, sempre, à nossa vontade; contra o tempo, a bem e a mal, nada podemos, efectivamente, fazer....

Por isso, ele parece (será) sempre curto e a Medes diz "por sublimes...mas breves" momentos....
Mas (cont.)

PMF disse...

(Cont.) parte III dos comentários antecedentes:

..."Sublimes, mas BREVES momentos"...

Qual o tempo de um momento sublime?! Mais: será que o sublime tem tempo (ou seja, está, também, limitado pelo tempo e pelo espaço)?

Um sorriso, um momento de bem-estar, uma alegria genuína e tranquila, uma ajuda a alguém, um momento de paz de espírito, a felicidade de se ter conseguido algo - seja lá o que for! - com o nosso esforço, com a nossa "razão e emoção"... uma vez que, cada vez mais e como parece querer demonstrar o casal Damásio, elas (razão e emoção) são indissociávbeis e complementares, enfim, tudo isso que são momentos de vida (de alegria e de tristeza também), tudo isso (enfim, momentos de vida), terá TEMPO?

O que deixa marca nos outros é eterno, passa para alguém, será um tijolo, por mais invisível que pareça ser, para o caminho (vida) da Humanidade. Há uma realidade - que infelizmente a nossa natureza limitada, temporal e espacialmente, não nos permite abarcar (neste sentido, é que se fala em "mistério") - que existe para além do tempo (quer dizar, é intemporal, por mais insignificante que, imediatamente, nos pareça)!

No entanto, é isso tudo (os milhões de momentos de infinito que, desde sempre, individualmente, todos os seres humanos viveram) que também nos determina, hoje e no nosso tempo. E a cada um de nós! Por isso, os momentos sublimes não têm tempo, e nunca são breves (têm sempre consequència)!

Uma amizade, uma inimizade, uma guerra, uma paz, uma palavra de ajuda, um incentivo ou um insulto (que, por vezes, provoca mais danos do que um murro), tudo isso tem consequência e contribui para o que somos hoje, quer individual quer colectivamente (no nosso tempo e no nosso espaço)!

Talvez esse seja o nosso dever, ainda que não o percebamos: sermos um dos milhões de milhões de "elos de ligação" que faz a vida da humanidade, a nossa vida.

Por isso é que cada um de nós, por mais insignificante que pareça, é sempre importante: tal como um parafuso numa engrenagem, que não se vê, mas cuja falta pode ser muito (dramaticamente) sentida!

No fundo - crei - é por aqui que encontramos o sentido da vida, da Humanidade, da natureza humana (que é relacional, gregária; o "homem vale o que valem as suas relações").
Talvez seja este, também, o sentido religioso da "vida eterna" (independentemente da perspectiva da denominada "fé").

PS - Um filme que transmite esta mensagem (a ligação entre todos), de uma forma divertida (se bem que "escondida") é o "Seis graus de separação", com David Sutherland.
Passa-se em NY e é um dos meus filmes de culto!