março 28, 2012

Sono treina a visão

Em entrevista telefónica à agência Lusa, Allan Hobson revelou que “o sono é algo muito elaborado, a única coisa que se perde é consciência, mas a consciência, no máximo, ocupa cinco por cento da atividade cerebral”.

O investigador estudou os sonhos e concluiu, por exemplo, que quando conservamos a visão durante o sono, conseguindo formar imagens perfeitas, aquilo que o nosso cérebro está a fazer “no fundo é treinar a visão e isso é muito importante que ele faça”.

De acordo com o cientista não é só a visão, mas a locomoção também. “Todos os sonhos são animados, nós nunca ficamos quietos, sonhamos sobre correr, andar, mesmo voar, é como um programa de ensaio para o cérebro”, disse.

O cientista que formulou a teoria da “protoconsciência" que serve para o desenvolvimento e manutenção da “consciência desperta”, lembrou que “nós vemos a consciência como algo que só existe depois de acordarmos”, mas aquilo que tentou explicar “é que sonhar é uma outra forma de consciência, que precede no tempo o estado consciente".

Para Allan Hobbes, essa atividade “começa a acontecer no útero, na terceira semana de desenvolvimento do feto, num momento em que, certamente, não regista significativos efeitos do meio que o rodeia, ou seja, o cérebro já se está a preparar para estar consciente e está a ‘correr programas’ como um computador que se prepara para o trabalho do dia seguinte”.

O neurocientista publicou em 1977, com Robert McCarley, um estudo em que concluiu que os sonhos são mudanças bioquímicas e impulsos elétricos aleatórios que agitam o cérebro enquanto dormimos, sem qualquer significado no sentido que Freud lhes deu. Só que quando acordamos a nossa consciência, habituada a que tudo faça sentido, força uma “narrativa” para dar alguma lógica a esses impulsos.

Esta é a teoria de “ativação-síntese” comummente aceite no meio científico e que contraria a teoria psicanalítica, mas que Hobson atualizou em 1999 ao considerar que a parte do cérebro que gere as emoções também mantinha atividade durante os sonhos.

Apesar de ser apontado como o “maior provocador no campo do estudo dos sonhos” afirmou que faz “o que Freud queria fazer, mas que em 1895 não podia, porque não sabia nada sobre o cérebro, por isso estava obrigado a elaborar a sua teoria dos sonhos a partir de especulação”. Para ele, “’A interpretação dos sonhos’ é um grande livro, mas não há ali nada de científico sobre os sonhos”.

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